Geografia Poesia Fé: novembro 2008

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A Vocação Espiritual do Pastor

INSTITUTO DE PREPARAÇÃO DE LIDERES
SALVADOR 2009
JUDSON AUGUSTO OLIVEIRA MALTA
RESENHA
A Vocação Espiritual do Pastor
Eugene Peterson
A mensagem central do livro de Peterson é uma admoestação ao reconhecimento do pastorado como um chamado vocacional e ministerial, refletindo acerca dos principais problemas dos pastores para não disser da liderança cristã, retomando de forma coerente e profunda a centralidade de um chamado de autonegação: ao invés de uma carreira, ou de uma loja de espiritualidade.
Sintetizar todas as reflexões e tudo que há de relevante nesta leitura é simplesmente impossível, afinal esta obra merece nova atenção e porque não disser um lugar constante na cabeceira da cama.
È muito interessante o início do livro onde o autor se encontra num conflito entre a fé cristã e o chamado pastoral, onde o que parecia tão uno/evolutivo se tornar em determinado ponto antagônico. O que eu compartilhava da mesma visão do autor ao pensar, que ser cristão iria caminhar na mesma direção de ser pastor, entretanto esta colocação do autor foi inicialmente conflitante.
O livro tocou-me em diversos aspectos, a eventualidade da influencia pós-moderna nas igrejas gerou um contexto histórico muito interessante e crítico para não disser decadente, ao perceber-se no centro deste redemoinho, os Estados Unidos, imagino a dificuldade e os conflitos que Peterson deve ter enfrentado no caminho à redescoberta do seu chamado pastoral.
A ditadura da aparência, do bom marketing e do american way of life são um prato cheio para quem deseja ter uma vida de sucesso, uma ótima carreira, um encontro com sonhada Tarsis, não obstante, nada além de um sepulcro caiado.
A visão romântica do chamado pastoral é certamente uma constante no meio evangélico e porque não ser sincero o suficiente para afirmar que estive dentro deste contingente. Certamente a vocação pastoral pregada atualmente é uma posição de poder e status, onde as multidões e os milagres são os alvos. Ao se confrontar com as suas experiências de pastorado o autor afirma que a vocação espiritual não é glamourosa e Tarsis é uma mentira, uma afirmação maravilhosa.
Certamente é muito fácil pregar para as multidões e fazer um bom marketing de si mesmo, basta ter dinheiro e uma boa retórica, mas e onde fica o envolvimento pessoal? O mano a mano, a complexidade de relações que somente a vivência nos traz?
Na realidade é muito fácil não se relacionar na sociedade do descartável. Aliás, este é um padrão a ser seguido! A religiosidade fast-food, sem identidade, sem caráter, descartável, do valor de troca, e do “me dá o teu dinheiro que eu te dou meu Deus”. Uma religiosidade sem vida, como numa foto, uma miragem, e por que revelar nossas rugas se todos temos photoshop? É mais fácil pintar uma igreja sem mácula e sem rugas...
É muito confortante saber que não existe Tarsis, Melhor ainda é aceitar que ela não existe. Tarsis é uma história fantasiosa, uma lenda, um mito, uma farsa. Esse é um dos motivos que torna a passagem de Jonas um acontecimento tão cômico.
Primeiro, pelo profeta que tenta fugir da presença de Deus, e neste ponto vale ressaltar o que o autor trata quando faz uma relação entre a palavra “presença” de origem aramaica que significa literalmente estar diante da face de alguém. Neste sentido, o autor nos compara aos bebês que encontram no cotidiano do olhar de seus pais o aprendizado através da experiência vivida: o conforto, o cuidado e a repreensão.
Outra afirmação do pastor que veio desmoronar minha visão romântica da vocação pastoral foi: “a piedade não garante um bom trabalho pastoral”. Pensei eu: como assim? Para mim o Pastor deveria ser integralmente piedade, mas um pensamento um tanto árcade, certamente um golpe da minha falta de discernimento.
A pornografia eclesiástica é muito comum e a idolatria à vocação pastoral encontram-se como armas “que o diabo adora” não uma coisa visivelmente má, mas uma arma aparentemente boa e sutil, um “bem aparente” como afirma Peterson. Muitas vezes, aquele que traz a revelação da palavra de Deus se coloca no lugar do deus que está falando a palavra.
O texto de Peterson revela uma poderosa capacidade de escrita, uma escrita temperada, um referencial oscilando entre a narrativa, a desconstrução argumentativa e a crítica. Perpassando exemplos de vida, como o do seu ministério, sua infância no açougue e a vida de sua mãe. Exemplos Bíblicos como o de Jonas e da literatura mundial como os livros de “Dostoievisk”.
È interessante também observar as metáforas muito bem utilizadas pelo autor como: a ilusão de Tarsis a um monte de ostras agarradas ao casco de um navio, elas atribuem à obra um valor poético e exigem a reflexão do leitor para captar o sentido que o escritor pretendeu dar ao estabelecer suas comparações.
Ao considerar estas questões obviamente não excluo toda importância do “conteúdo do livro” em detrimento da grande qualidade de “escrita do livro”, mas vislumbrando a integridade da obra, penso que é um livro exemplar, tanto no contexto teológico, como de escrita e porque não disser, poético.
Para mim foi um grande aprendizado, que eu sempre preferi a objetividade e a crítica radical em detrimento da argumentação, vejo a possibilidade exemplar de unir uma crítica profunda e uma estrutura essencialmente argumentativa. Por fim desabafo ao declarar a minha sede por uma leitura mais histórico-crítica do contexto da vocação pastoral. Os pensamentos do autor colocaram em cheque o que eu sonhei para a realização da minha vocação cristã.