Gosto quando o ímpeto de escrever transborda e flui através de um momento de profunda reflexão. Hoje foi um dia cansativo, estar a serviço do povo de Deus é, muitas vezes um exercício de perseverança plena em amor ao nosso Senhor, pois em alguns muitos casos encontramos barreiras que nem sempre tem um porque lógico para existir numa relação de pastoreio e mentoria espiritual.
Uma sábia amiga me disse que “trabalhar com gente, é trabalhar com problema”. Dentro da atual conjuntura, preciso me dobrar a essa premissa, ainda que de modo relutante. Confesso que possuo uma tendência maior a apreciação do jargão “cada cabeça, um mundo” que, pra mim, guarda certa plenitude de sentido, ainda que, seja conveniente ao bom convívio social considerar as dimensões intersubjetivas (me refiro às socialmente convencionadas). Essa atitude diplomática é uma prerrogativa comportamental dos mundos mais lúcidos, coisa que está meio escassa por esses dias, ainda mais quando tratamos da faixa etária dos adolescentes.
A adolescência é uma fase entre a transição do mundo infantil ao adulto, sendo que a mesma guarda características e desafios próprios além dos inerentes ás fases pelas quais se conecta, pois os adolescentes muitas vezes se sentem adultos, querem ter privilégios de adulto e inclusive tentar sustentar um conhecimento maior do que realmente possuem com o objetivo de autoafirmar-se num mundo que lhes hostil. Nesse processo de autoafirmação, carência afetiva e autodefesa os adolescentes muitas vezes enchem-se tanto de si mesmos que não sobra espaço para relacionar-se com os da mesma idade e acabam sentindo-se excluídos por suas próprias atitudes, ou simplesmente excluem-se por sentirem-se superiores ao resto do mundo.
Pastorear jovens cristãos é uma tarefa difícil, pois quando eles não são extremamente cheios de si, são demasiadamente vazios de si, na minha opinião sejam cheios ou vazios, os dois casos são promovidos pela carência de atenção, que na fase da adolescência parece insaciável ao passo que relutante. O que tento dizer é que há momentos que os adolescentes são relutantes a qualquer aproximação, mesmo quando reconhecem a necessidade dela.
Na verdade, o que vemos em nossos jovens é uma necessidade gritante de atenção, coisa que é muitas vezes manifesta numa tendência à intensidade de seus atos de exclusão ou busca por espaços de aceitação. O grande problema é quando o espaço de aceitação do adolescente/jovem não é encontrado onde deveria estar, ou seja, nas nossas igrejas e famílias. È muito importante estar antenado com as demandas e conflitos da juventude no pastoreio de adolescentes, pois se não lhes falarmos em sua língua, eles não nos darão confiança e não responderão aos nossos apelos.
Não adianta argumentar ou pressionar com palavras, somente o exemplo prático e a dedicação na perseverança do ensino e do rompimento das barreiras farão com que os adolescentes abram-se para relacionamentos mais profundos, maduros e saudáveis com eles mesmos, com a Igreja e com Deus.
Precisamos mostrar com atitudes que o evangelho não é feito de vaidades, livros, palácios de ouro, ou de shows da fé, mas sim de pessoas... Sim, de defeituosas pessoas que escolhem negar-se para viver e servir em amor a Deus e a seu próximo.
Judson Malta.
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